Começam hoje os Dias Culturais. Que hão de ser festa, animação e partilha, apesar dos contratempos impostos pela chegada inesperada da chuva.
E porque hoje também é o Dia Mundial da Poesia, vale a pena evocar a memória de Manuel António Pina, um grande poeta contemporâneo (Prémio Camões 2011), infelizmente já desaparecido.
A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar?