Se há acontecimento que pode ser celebrado em qualquer altura do ano sem necessidade de desculpas ou justificações, esse é o 25 de abril.
Naturalmente, este dia maior da História recente de Portugal não passou sem registo na nossa escola e por ele — e para ele — realizaram-se diversas iniciativas, como a que seguidamente se documenta, da responsabilidade dos alunos das turmas A, B e C do 8º ano, do 9ºA e do PIEF, sob orientação da professora Margarida Santos.
Esta atividade contou com a importante colaboração dos trabalhadores das oficinas camarárias, mais especificamente da sua carpintaria, e consistiu na produção de cravos vermelhos que, uma vez plantados pela escola, semearam a cor, a memória e a esperança — mas também a certeza de que «as portas que abril abriu» não poderão jamais ser fechadas por aqueles que hoje tão despudoradamente conspiram para repor o império do medo.
E porque a ignorância e os medos são o alimento dileto de todos os fascismos, publicamos um poema de José Cutileiro que descreve na perfeição o buraco fundo e escuro de onde emergimos estremunhados, em abril de 1974.
É a medo que escrevo. A medo penso.
A medo sofro e empreendo e calo.
A medo peso os termos quando falo
A medo me renego, me convenço
A medo amo. A medo me pertenço.
A medo repouso no intervalo
De outros medos. A medo é que resvalo
O corpo escrutador, inquieto, tenso.
A medo durmo. A medo acordo. A medo
Invento. A medo passo, a medo fico.
A medo meço o pobre, meço o rico.
A medo guardo confissão, segredo.
Dúvida, fé. A medo. A medo tudo.
Que já me querem cego, surdo, mudo.
Os Medos, in Versos da Mão esquerda, 1961






















